Alves dos Reis, o maior burlão da História portuguesa!?

Alves dos Reis é considerado o maior burlão da História de Portugal, tendo conseguido falsificar 200.000 notas no valor nominal de 500 escudos. A partir de 23 de Novembro de 1925, os seus negócios pouco transparentes começam a atrair a curiosidade do jornal ‘O Século’. A burla é publicamente revelada a 5 de Dezembro de 1925 nas páginas deste jornal.



Artur Virgílio Alves dos Reis nasceu a 3 de Setembro de 1898, em Lisboa, no seio de uma família modesta. Ainda começou um curso de Engenharia, mas não passou para além do 1.º ano, devido ao casamento com Maria Luísa Jacobetty de Azevedo, em 1916, facto que o livrou da mobilização para a Primeira Guerra Mundial.

Nesse mesmo ano parte para Angola, onde trabalhará nas Obras Públicas, chegando a ser inspetor. Foi também director dos Caminhos de Ferro naquela colónia. Este cargo foi obtido a partir da sua primeira burla conhecida, quando forjou um diploma de Engenharia pretensamente obtido em Oxford, com capacidades para gestão industrial e financeira.

A partir de 1919, Alves dos Reis dedicou-se ao comércio de produtos entre a colónia e a metrópole, sempre com golpes e ilegalidades. Acumulou algum capital, regressando a Lisboa em 1922, onde criou a firma Alves dos Reis, Ldª. Investiu também numa empresa mineira em Angola, assumindo-se cada vez mais como um grande empresário. No entanto, tanto Portugal como a sua colónia de Angola, sentiam de forma profunda a grave crise económica europeia resultante da Grande Guerra. Alves dos Reis ressentiu-se imenso dessa situação difícil, embora tenha encontrado maneiras de a superar.

Como sempre alimentara o sonho angolano, acreditava firmemente que seria aquela colónia a sua rampa de lançamento para negócios em maior escala, fosse de que maneira fosse. Assim, virou-se para a Ambaca, empresa ferroviária estatal de Angola, a qual queria controlar através da posse da maior parte das suas acções. Estas, conseguiu-as adquirir através de uma nova fraude, um cheque sem cobertura do National City Bank, de Nova Iorque, onde tinha conta. Alves dos Reis pretendia vender as acções a um preço mais alto antes do cheque chegar ao seu destinatário. O principal comprador que Alves dos Reis tinha em vista era Norton de Matos, comissário-geral de Angola.

Mas o negócio não se concretizou, e Alves dos Reis foi arrastado para os tribunais, com um processo judicial que lhe valeria uma detenção na prisão, entre 5 de Julho e 27 de Agosto de 1924, data do julgamento. Foi absolvido da acusação de desvio de fundos, mas culpado da emissão de um cheque sem cobertura. Em 1925, todavia, Alves dos Reis entraria na história de Portugal como o seu maior burlão, a partir de uma gigantesca operação de fraude financeira. Nesse ano, Alves dos Reis montara um plano para criação de um banco - o Banco Angola e Metrópole - através da obtenção de fundos de que não dispunha.

Formara uma equipa de especialistas: José dos Santos Bandeira, vigarista e irmão do embaixador português na Holanda; Karel Ysselveere, negociante holandês; Adolf Hennies, alemão, também negociante, profundo conhecedor dos meandros da diplomacia internacional. Então, Alves dos Reis, em Inglaterra, mandou imprimir 580 000 notas de 500 escudos, fingindo-se de governador do Banco de Portugal, para além de ter falsificado uma chapa de nota, documentos e credenciais várias.

Utilizou ainda as matrizes e serviços da empresa inglesa Waterlow & Sons, Ltd, a qual executava a impressão das referidas notas. Através de Ysselveere, obteve do administrador da empresa inglesa o reconhecimento da autenticidade de dois contratos, pelos quais o Banco de Portugal autorizava o governo de Angola a emitir 580 000 notas de 500 escudos (290 000 000 de escudos / 1 446 514 de euros), ficando Alves dos Reis encarregado de tratar do negócio.

Assim, Ysselveere recebeu da Waterlow, em Fevereiro de 1925, a primeira parte das notas.
José Bandeira, através da embaixada portuguesa em Haia, fez chegar a Portugal esse primeira parte da encomenda. As restantes remessas foram chegando ao País, suscitando então desconfianças nos meios financeiros, perante tantas notas em circulação. Contudo, as investigações do Banco de Portugal nada clarificaram, desmentindo mesmo a existência de dinheiro falso.

Alves dos Reis pretendia com toda esta fraude gigantesca fundar o Banco Angola e Metrópole, para investir em Angola e, posteriormente, tentar controlar a maioria das ações do Banco de Portugal, situação que esteve prestes a conseguir. Entretanto, a burla foi descoberta, estando Alves dos Reis em Angola. A bordo de um navio alemão, foi preso a 6 de Dezembro de 1925, acusado de falsificação de notas. Foi aberto um processo judicial, que se prolongou até 30 de Junho 1930, quando foi condenado a 20 anos de prisão. Manteve-se encarcerado na Penitenciária de Lisboa até 1945, sofrendo a pena mais pesada do grupo de falsificadores por ele dirigido, em que se incluía a sua mulher.

A justiça condenou Alves dos Reis, mas o povo absolveu-o desde o início do processo.
Era uma figura conhecida do grande público, um indivíduo elegante e vaidoso, considerado por muitos um génio, um aventureiro romântico, um homem capaz das mais impensáveis artimanhas para alcançar fortuna e notoriedade, até alguém capaz de salvar o País do seu estado depauperado. A fraude que organizara teve repercussões em todo o País e em muitas figuras públicas e do governo, levando algumas a tribunal e mesmo à prisão, como o governador e o director do Banco de Portugal. O governo foi ridicularizado e contestado pela opinião pública durante o processo, que arrastou inúmeras personalidades para a ignomínia e para as "ruas da amargura".

Mas mesmo depois da maior fraude da história portuguesa, este campeão das ilegalidades voltou a reincidir, quando a 12 de Fevereiro de 1952, sete anos depois de sair da prisão, burlou em 60 mil escudos (299.27 euros) um negociante de Lisboa, a quem prometera 6 400 arrobas de café angolano, inexistentes. Em 1955 foi condenado a quatro anos de prisão, pena que não chegou a cumprir, pois morreu em 9 de Julho desse ano, na pobreza e no esquecimento geral.
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