Joana Amaral indignada com o INEM: «Que seja um alerta para todos os portugueses»

Joana Amaral Dias indignada com a forma como o pai foi assistido pelo INEM: "Morreu sozinho em agonia dentro de uma ambulância que não dispunha dos meios para o acudir, duas horas depois da emergência ter sido accionada. Espero que isto seja um alerta para todos os portugueses. Estamos perante uma situação gravíssima. Pode acontecer a qualquer um".



Se os impostos que pagamos não servem para acudir em situações limite, servem para quê? Para salvar bancos? O meu pai sentiu-se mal às 9 da manhã. A ambulância foi chamada às 9.09 e, todavia, Carlos Amaral Dias só chegou ao hospital passava das 11. Já sem vida. Mais de duas horas depois.

Reparem que o trajecto da sua residência ao São José é bastante curto. O que aconteceu foi um cocktail fatal de acidentes, negligência e incompetência. Houve uma ambulância que avariou, mas também se verificaram demoras e a chegada do carro do INEM só com um técnico e sem o equipamento de reanimação como a situação estritamente ditava. O resultado foi a morte.

Pedimos autópsia e o INEM abriu um inquérito. Aguardamos os resultados. E se isto pode acontecer com um homem de 73 anos a viver no centro de Lisboa, pode suceder a qualquer um de 20 ou 30, em Viseu ou em Faro ou no interior desertificado. Pode acontecer a qualquer um, vivemos num país que cortou no essencial, deixou a gordura e talhou o osso, deixando as populações vulneráveis, desprotegidas e entregues à sua sorte. Pode acontecer-te a ti.

Verdade que o meu pai era um doente com diversas patologias graves cuja expectativa de vida era já limitada. Mas certamente merecia ter partido em paz e com outra tranquilidade, com a mão segura pelos que amava, com os olhos postos nos que tinha. Foi estudante de medicina em Coimbra. Esteve na crise de 69. Foi preso pela PIDE. Os meus pais tiveram uma espia em casa, a minha mãe também foi detida grávida do meu irmão. Lutaram pelos direitos de todos. Já médico, teve que ir para Angola fazer uma guerra que abominava. Depois, em Coimbra, deu os seus melhores anos ao serviço nacional de saúde no qual deixou talento e pele.

Morreu sozinho em agonia dentro de uma ambulância que não dispunha dos meios para o acudir. Que a sua partida sirva para que todos nós - e finalmente - rejeitemos este futuro. Profundamente grata pelo vosso apoio.
Joana Amaral Dias

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