Mais de 96 ex-governantes deram em banqueiros!

Mais de 96 ex-governantes deram em banqueiros!
por Nuno Aguiar do Massa Monetária 2014

Em 19 Governos Constitucionais, (pelo menos) 96 ministros e secretários de Estado portugueses ocuparam cargos em mais de 20 Bancos. Uma média de cinco governantes por Executivo.

Esta investigação teve como base a informação compilada por Jorge Costa para o documentário "Donos de Portugal". O nosso exercício concentra-se apenas no sistema financeiro, e a primeira conclusão é a mais óbvia, mas talvez a mais impressionante: 96(!) governantes. Uau! Em apenas 19 Governos Constitucionais.

Desta lista de quase uma centena, só dois – Artur Santos Silva e Vasco Vieira de Almeida – ocuparam cargos executivos apenas em governos provisórios.

O campeão é Rui Machete, (ex)ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, que ocupou cargos em seis bancos diferentes ao longo da sua carreira, também muito preenchida politicamente (foi ministro em dois Governos Constitucionais e um Governo Provisório).

Depois surgem vários governantes com posições em três bancos diferentes: Alexandre Vaz Pinto, Almerindo Marques, António Nogueira Leite, Carlos Tavares, Luís Alves Monteiro e Luís Mira Amaral.

Optámos por deixar de fora alguns gigantes da banca já não existem, uma vez que a informação é, por vezes, muito difícil de obter. É esse o caso do Banco Pinto & Sotto Mayor, a União de Bancos Portugueses, o Banco Português do Atlântico, Fonsecas & Burnay, Totta & Açores ou o Banco de Fomento e Exterior.

A inclusão destes bancos não traria muitos nomes novos para a lista, mas mostraria como alguns políticos “rodaram” por muito mais instituições financeiras.

Almerindo Marques e Miguel Cadilhe, por exemplo, tiveram cargos em pelo menos dois dos bancos citados em cima. Carlos Tavares, actual presidente da CMVM, em quatro.
gráfico governos
Se dividirmos os governantes por partidos políticos, a lista revela-se "alaranjada", mas com muito muitos tons rosa. O critério para atribuição de cor é o Governo em que serviram.

Dos 96 governantes, 53 são identificados com o PSD, 30 com o PS e 5 com o CDS-PP. Os restantes 8 são classificados como “independentes”, porque tiveram pastas em Executivos de coligação e não têm filiação partidária pública (a maioria pertenceu a Executivos PSD/CDS).

Se tivermos em conta apenas ministros e primeiros-ministros, a concentração de governantes com cargos em bancos é clara entre meados dos anos 80 e meados dos anos 90. O maior destaque vai para o XI e XII Governos Constitucionais, liderados por Cavaco Silva, com 12 e 10 ministros, respectivamente, que foram quadros da banca.

O V Governo Constitucional, com Maria de Lurdes Pintassilgo como primeiro-ministro, foi o único em relação ao qual não foi possível identificar ministros ou secretários de Estado com cargos na banca.

Estará o cargo na banca alinhado com a pasta detida no Executivo? À primeira vista, a especialização em finanças não parece ser o critério. Dos 96 governantes desta lista, apenas 27 ocuparam nos governos cargos sob a asa do Ministério das Finanças.

Se olharmos para uma distribuição por instituições financeiras, a lista é liderada pela Caixa Geral de Depósitos, com 23 governantes, o que já seria de esperar do banco público. A seguir surge o BES, a quem associamos 22 nomes, seguido pelo BCP com 20.

O fosso é grande a partir daqui. Pelo BPI passaram 8 governantes, pelo BPN/Efisa, Banif, Santander e BPP 7. De fora da análise ficou o Banco de Portugal, que estaria à frente de todas estas instituições.

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