A rápida e estranha tese da Trovoada seca

Foi ou não trovoada seca a causar o incêndio de Pedrógão?


18 Junho 10:13
NÃO BATE A BOTA COM A PERDIGOTA

A PJ, em tempo recorde, já apurou a causa do incêndio de Pedrógão Grande. Garante que foi trovoada seca e o seu director até diz que se identificou a árvore. Tanta e tão rápida certeza levou-me a desconfiar. Como sei que o IPMA tem registos das trovoadas secas (aliás, parece que a PJ não os ouviu; apenas à GNR), fui ver as ocorrências de trovoadas secas do dia de ontem. 

De facto, Portugal foi fustigado por trovoada seca. Sucede que, no período de início do incêndio em Escalos Fundeiros, a norte de Pedrógão, não há registo de qualquer ocorrência (vd imagem registo do IPMA). Ou seja, a trovoada não terá vindo do céu; veio do Inferno...





18 Junho 15:29
FALCATRUA??? Yo no acredito en las brujas, pero...

Divulguei esta manhã os registos das trovoadas secas do dia de ontem, onde se destacava o singelo facto de não aparecer qualquer registo de raio nem corisco nas imediações (e arredores) da ignição iniciada a norte de Pedrógão Grande. Isto deitava por terra a tese da PJ sobre a causa inicial do fogo. 

Pois, quis agora ir ver os dados novamente com mais detalhe horário (e não agregado), e eis que surge isto: "INFORMAÇÃO NÃO DISPONÍVEL / INFORMAÇÃO SEM DADOS DE LOCALIZAÇÃO". Ora, façam favor, os meus (ex-)colegas jornalistas de averiguar bem a fundo este súbito desaparecimento de informação.





19 Junho 00:51
TROVOADA SECA...OU SE NÃO TENS CÃO, CAÇA COM CÃO ESTRANGEIRO

Estranhamente, os dados das trovoadas secas (inexistentes a norte de Pedrógão) desapareceram do site do IPMA durante a tarde deste domingo. A tese da PJ sobre a origem do incêndio, tão rapidamente avançada, caía por terra com a falta de confirmação científica. 

Enfim, eu desconfio logo das entidades que manipulam informação porque mostram que não são sérias.

Felizmente, não vivemos num mundo isolado e, assim, através de uma pesquisa, consegui detectar um sistema que regista (e mantém) todas as trovoadas secas. No LIghtningMaps (vd. imagem), eis a confirmação da inexistência de trovoada seca a norte de Pedrógão Grande entre as 11 e as 17 horas de sábado passado.





Realço mais uma vez que a origem do fogo para mim não explica a dimensão da tragédia humana nem tão pouco as responsabilidades das autoridades de Protecção Civil. 

Pessoalmente, desconfio que a insistência oficial na trovoada seca como origem do incêndio apenas aparece para se encaixar numa tese favorável à imprevisibilidade e incapacidade humana em debelar algo supra-humano. Mesmo se as trovoadas secas são fenómeno mais comum dos que se possa imaginar.

Aquilo que me surpreende é a pressa em se querer dizer que a culpa foi o raio (como em outras situações se aponta para a mão criminosa). E o que me chateia é a manipulação da informação: quando não agrada uma tese, os dados científicos desaparecem.


19 Junho 12:03
O director da PJ deu-nos um lindo exemplo de como se deve conduzir uma investigação independente. Dados científicos? Nã! Testemunhos locais? Nã! Foi Deus que lançou o raio. E, pronto, servicinho feito. A tutela agradece.

Pedro Almeida Vieira.


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Habitantes de Escalos Fundeiros, aldeia onde parece ter iniciado o incêndio, contestam tese da Polícia Judiciária de que o fogo de Pedrógão Grande foi causado por uma trovoada seca. (Expresso)



Miguel Serrano, ex-industrial já reformado, dono de terrenos naquela região, aponta para várias árvores queimadas, algumas derrubadas pela força do fogo do último sábado. "Foi aqui que tudo começou", diz, com tristeza nos olhos, este homem.

Há cerca de 24 horas, inspectores da Polícia Judiciária tinham estado naquele mesmo local, ainda distante da pequena aldeia. Concluíram que tinha sido uma trovoada seca a causar o incêndio que teve início na tarde de sábado e deflagrou por vários concelhos vizinhos, matando mais de 60 pessoas. A tese, porém, não convence os moradores. 

Miguel Serrano garante que ninguém ali ouviu qualquer trovoada próxima da aldeia. “Andam para aí a inventar que caiu um raio numa destas árvores, mas os únicos trovões que ouvi nessa tarde estavam longe, para os lados da Sertã”.
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