Cecília do Carmo escreve ao ministro da Saúde: indignação e revolta!
A ex-jornalista da RTP, indignada e revoltada com várias situações que assistiu no Hospital de Santa Maria, resolveu escrever ao Ministro da Saúde.
Sr. Ministro, há uma palavra que prezo muito: DIGNIDADE. Aquilo que vi ontem nas urgências de um hospital central do país não é digno de ninguém. Nem dos profissionais de saúde, nem dos familiares dos doentes, mas principalmente para os pacientes.
Sr. Ministro,
Escrevo-lhe esta carta, depois de ter passado várias horas da última noite/madrugada no Hospital de Santa Maria em Lisboa, instituição que tão bem conhece. E passo a explicar o porquê desta minha decisão.
A minha filha teve ontem (quinta-feira) à noite um acidente de viação (felizmente está bem e a recuperar de algumas escoriações). Logo após o acidente teve um episódio de perda de consciência e foi transportada pelos bombeiros ao hospital. Imobilizaram-na e transportaram-na com todo o cuidado, como ditam as regras do protocolo. Chegou ao hospital, já consciente, mas com um pré-diagnóstico de traumatismo craniano (que graças a Deus, também não se veio a confirmar). Deitada na maca (imobilizada) e depois da triagem feita por uma enfermeira, foi encaminhada para a urgência para ser observada por um médico.
Sr. Ministro: sabe quanto tempo esteve a minha filha à espera da primeira observação por um médico? 3 (três horas)! Repito: 3 horas à espera para uma primeira observação com um pré-diagnóstico de traumatismo craniano!
E sabe porquê? Porque naquela urgência só estava mesmo um médico a receber e observar todos os doentes traumatizados que iam chegando ao hospital. Escusado será dizer que, sem mãos a medir. Mas não ficamos por aqui!
Eu estive sempre ao lado da minha filha, como estavam outros acompanhantes com outros doentes, todos em fila deitados nas macas. Ao fim de quase 3 horas de espera, o médico chamou uma senhora (pareceu-me sexagenária) que estava sozinha. Pelo intercomunicador ouvimos 4 (quatro) vezes o médico chamar pelo nome da paciente. A senhora, a muito custo, lá foi dizendo que era ela, mas não conseguia ir ter ao gabinete médico. Porquê? Porque naquela altura só estava um auxiliar/maqueiro, no referido serviço de urgência, que tinha ido levar outro paciente a outra zona do hospital. Deixei a minha filha e transportei eu própria a senhora na maca ao gabinete do médico para ser observada.
Depois deste episódio a minha filha foi chamada. E que foi que vi quando transportava finalmente a maca da minha filha? O médico a sair do gabinete e a levar a senhora que tinha acabado de observar de novo para a zona de espera, onde estavam todos os outros doentes. Uma espécie de médico/maqueiro, está a ver?...Porque a senhora não tinha ninguém a acompanhá-la e não havia um auxiliar para a levar...
Sr. Ministro, há uma palavra que prezo muito: DIGNIDADE. Aquilo que vi ontem nas urgências de um hospital central do país não é digno de ninguém. Nem dos profissionais de saúde, sobre os quais nada tenho a apontar, apenas a elogiar (todos!), nem dos familiares dos doentes (que tudo fazem para agilizar as barreiras que encontram enquanto esperam e desesperam), mas principalmente para os pacientes.
A importância e avaliação do SNS não se pode apenas fazer pela excelência dos profissionais de saúde. Essa importância e eficácia tem muito a ver com os meios que todos eles dispõem para poderem trabalhar. Deixe-me dar-lhe um conselho: experimente ir a uma urgência, com um familiar seu, sem se identificar (será difícil eu sei, porque o Sr. Ministro é uma figura pública), mas vá na mesma sem anunciar a sua presença. Talvez não diga tão prontamente que o SNS está bem.
Mas eu digo: nem está bem, nem se recomenda. Tenho vários amigos (profissionais de saúde) que trabalham em vários hospitais públicos em Portugal. Todos se queixam de situações parecidas com as que acabei de relatar. Lamento tirar-lhe algum do seu tempo com esta missiva que, confesso, preferia não ter que escrever. Mas trata-se, repito, de DIGNIDADE.
E sobre isto, tenho dito!
Sr. Ministro, há uma palavra que prezo muito: DIGNIDADE. Aquilo que vi ontem nas urgências de um hospital central do país não é digno de ninguém. Nem dos profissionais de saúde, nem dos familiares dos doentes, mas principalmente para os pacientes.
Sr. Ministro,
Escrevo-lhe esta carta, depois de ter passado várias horas da última noite/madrugada no Hospital de Santa Maria em Lisboa, instituição que tão bem conhece. E passo a explicar o porquê desta minha decisão.
A minha filha teve ontem (quinta-feira) à noite um acidente de viação (felizmente está bem e a recuperar de algumas escoriações). Logo após o acidente teve um episódio de perda de consciência e foi transportada pelos bombeiros ao hospital. Imobilizaram-na e transportaram-na com todo o cuidado, como ditam as regras do protocolo. Chegou ao hospital, já consciente, mas com um pré-diagnóstico de traumatismo craniano (que graças a Deus, também não se veio a confirmar). Deitada na maca (imobilizada) e depois da triagem feita por uma enfermeira, foi encaminhada para a urgência para ser observada por um médico.
Sr. Ministro: sabe quanto tempo esteve a minha filha à espera da primeira observação por um médico? 3 (três horas)! Repito: 3 horas à espera para uma primeira observação com um pré-diagnóstico de traumatismo craniano!
E sabe porquê? Porque naquela urgência só estava mesmo um médico a receber e observar todos os doentes traumatizados que iam chegando ao hospital. Escusado será dizer que, sem mãos a medir. Mas não ficamos por aqui!
Eu estive sempre ao lado da minha filha, como estavam outros acompanhantes com outros doentes, todos em fila deitados nas macas. Ao fim de quase 3 horas de espera, o médico chamou uma senhora (pareceu-me sexagenária) que estava sozinha. Pelo intercomunicador ouvimos 4 (quatro) vezes o médico chamar pelo nome da paciente. A senhora, a muito custo, lá foi dizendo que era ela, mas não conseguia ir ter ao gabinete médico. Porquê? Porque naquela altura só estava um auxiliar/maqueiro, no referido serviço de urgência, que tinha ido levar outro paciente a outra zona do hospital. Deixei a minha filha e transportei eu própria a senhora na maca ao gabinete do médico para ser observada.
Depois deste episódio a minha filha foi chamada. E que foi que vi quando transportava finalmente a maca da minha filha? O médico a sair do gabinete e a levar a senhora que tinha acabado de observar de novo para a zona de espera, onde estavam todos os outros doentes. Uma espécie de médico/maqueiro, está a ver?...Porque a senhora não tinha ninguém a acompanhá-la e não havia um auxiliar para a levar...
Sr. Ministro, há uma palavra que prezo muito: DIGNIDADE. Aquilo que vi ontem nas urgências de um hospital central do país não é digno de ninguém. Nem dos profissionais de saúde, sobre os quais nada tenho a apontar, apenas a elogiar (todos!), nem dos familiares dos doentes (que tudo fazem para agilizar as barreiras que encontram enquanto esperam e desesperam), mas principalmente para os pacientes.
A importância e avaliação do SNS não se pode apenas fazer pela excelência dos profissionais de saúde. Essa importância e eficácia tem muito a ver com os meios que todos eles dispõem para poderem trabalhar. Deixe-me dar-lhe um conselho: experimente ir a uma urgência, com um familiar seu, sem se identificar (será difícil eu sei, porque o Sr. Ministro é uma figura pública), mas vá na mesma sem anunciar a sua presença. Talvez não diga tão prontamente que o SNS está bem.
Mas eu digo: nem está bem, nem se recomenda. Tenho vários amigos (profissionais de saúde) que trabalham em vários hospitais públicos em Portugal. Todos se queixam de situações parecidas com as que acabei de relatar. Lamento tirar-lhe algum do seu tempo com esta missiva que, confesso, preferia não ter que escrever. Mas trata-se, repito, de DIGNIDADE.
E sobre isto, tenho dito!