«Qualquer dia pedem-nos o código genético para entrar num bar»

Joana Amaral: Há o medo de uma sociedade big brother, e os receios da venda e roubo dessa informação



Há uma enorme polémica em toda a Europa e nos EUA com a recolha de dados biométricos como a impressão digital, a voz, o reconhecimento facial, o código genético. E, de repente, estou envolvida nela até aos cabelos. Eu e o ginásio GoFit. Então, esse tipo de informação deveria, supostamente, contribuir para a nossa segurança mas, em todo o mundo (já chegarei a Portugal), está a tornar as pessoas mais inseguras porque invade a sua privacidade e porque se verificam, sistematicamente, abusos na forma de recolha, processamento e armazenamento desses dados.

Há o medo de uma sociedade big brother, e os receios da venda e roubo dessa informação (nem imaginam os negócios de milhões que se fazem por aí). Afinal, palavras-chave roubadas ou perdidas podem ser substituídas mas impressões digitais ou a iris não. E em todo o planeta decorrem acções em tribunal, protestos, boicotes em torno desta questão. Aliás, muitas empresas retrocederam após perderem processos judiciais.



Adiante. Há uns meses, o ginásio GoFit Campo Grande em Lisboa decidiu implementar o uso de impressão digital para entrar no recinto. A coisa foi apresentada como obrigatória (embora não possa ser) e a maioria das pessoas aderiu. Mas, como facultar uma informação tão sensível como a impressão digital num ginásio (e não no Pentágono) é desproporcional e desnecessário houve uma minoria que rejeitou (na qual me incluo) e que logo começou a ser então pressionada pelo dito ginásio e as suas práticas agressivas.
Por exemplo, quem quis continuar a entrar com o cartão magnético (tipo chave) passou a ser mandado esperar na fila da secretaria, em vez de entrar directo como dantes. Ou seja, quem aderiu à impressão digital passa-a na cancela e entra. Quem não aderiu, em vez de passar o cartão e entrar também (como até então) tem que esperar para ser atendido. Pode ser um segundo ou uma hora, dependendo do número de sócios que estejam a tratar de pagamentos, inscrições, etc.

Enfim, reparem no absurdo - é como se cada vez que quisessem andar de metro tivessem que estar na fila para tratar do passe, em vez de passar logo na cancela com o cartão. O Gofit comporta-se deste modo prepotente achando não apenas que tem o direito de recolher todos os dados biométricos dos seus sócios como a castigar os que recusam. O tratamento que, normalmente, dá às pessoas que o frequentam é bastante miserável só que isto passa limites numa sociedade livre e democrática.

É que não faltava mais nada. Qualquer dia pedem-nos o código genético para entrar num bar. Tenho já protestado contra esta situação e irei apelar ao escrutínio da Comissão Nacional de Protecção de Dados. Esta vai ser uma das lutas do futuro. Já começou.
Joana Amaral Dias

adenda: 15-05-2019
Depois de eu ter denunciado as práticas abusivas dos direitos dos cidadãos do ginásio GoFit, o director de operações da empresa veio dizer que me comporto como uma criança, etc, proferindo vários insultos e procurando, de novo, coagir e intimidar. Teria feito melhor figura se esclarecesse a questão e se limitasse a isso mesmo.

É o que há. Adiante. Vamos lá ver se nos entendemos - pedir a impressão digital para entrar num ginásio (no qual tenho uma anuidade paga) é desproporcional e desnecessário. Cartão magnético com verificação de fotografia será suficiente. Afinal , não se trata do Pentágono. Ainda hoje entrei no DIAP onde fui prestar declarações (caramba, no DIAP! ) apenas com cartão de cidadão ! Mais - quem se recusa, como eu, a entregar esses dados biométricos e continua a entrar no ginásio com cartão não tem que ser tratado de forma diferente, não tem que ser alvo de pressões, discriminação ou castigos.

Quem entra com impressão digital não tem que esperar para aceder às instalações e quem entra com cartão deve ter exactamente o mesmo tratamento. É só isso que quis e que quero, não deixando de alertar para os perigos dos dados biométricos.

Enfim, o ginásio Gofit quer ficar com informação tão sensível como as impressões digitais dos seus sócios. Mas, pelos vistos, ainda quer piratear mais qualquer coisa da sua identidade e cidadania. Ilustram bem a prepotência e a agressividade de tantas empresas de hoje. Atenção.
Joana Amaral Dias



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