Nascimento de Portugal - Portucale


Nascimento de Portugal - Portucale

Portucale


Embora a existência da povoação na foz do Douro durante o período romano se encontre confirmada, o mesmo não acontece para a sua localização exacta; o Paroquial Suévico de São Martinho de Dume, estudado pelo cónego Pierre David após a sua identificação pelo também cónego Avelino de Jesus da Costa, um dos nomes mais importantes da diplomática portuguesa, refere-se, séculos depois, a um povoado que designava como Portucale Castrum Antiquum, na margem esquerda, e outro, o Portucale Castrum Novum, na direita.

Aquando do domínio dos Suevos, Portucale foi palco de vários acontecimentos, contando-se entre eles o aprisionamento de Requiário durante a invasão de Teodorico (457), a revolta do seu governador Agiulfo, que pretendia ser aclamado rei e foi executado, e a última batalha (585) de Andeca, último rei suevo, vencido por Leovigildo.

Quando da invasão muçulmana da península Ibérica, Portucale era já, desde a segunda metade do século VI, a sede da diocese Portucalense, situada na província da Galécia, e tendo por metropolita o bispo de Braga. Após a invasão, a diocese não sobreviveu, tendo sido apenas restaurada após a reconquista do Porto, em 868.

Pelo século X o condado de Portugal ( norte do Douro ) foi governado por Mumadona Dias seu marido Hermenegildo Gonçalves e os seus descendentes, um dos quais era tutor e sogro do rei Leonês Alfonso V. Mas quando a sua dinastia foi destronada pela casa Navarra - Castelhana de Sancho III o Grande, o condado ocidental perdeu a sua autonomia.

O filho de Sancho III, Fernando I de Castela, reconquistou Coimbra em 1064 mas entregou o seu governo a um moçarabe. Quando os Almorávidas Africanos anexaram a Espanha Muçulmana, Alfonso VI de Leão (1065-1109) e Castela (1072-1109) tomaram providências para a defesa do Oeste, solicitando a ajuda de Henrique, irmão do Duque de Eudes ( Odo ) de Borgonha, casando-o com a sua filha ilegítima Teresa, e fizeram-no conde de Portugal.

Condado Portucalense

Não se deve confundir o Condado Portucalense — concessão dos dois territórios de Coimbra e de Portucale ao conde D. Henrique — com o condado de Portucale, que começou a existir desde a presúria de Vímara Peres, prolongada pelos seus descendentes — embora nem sempre segundo uma linhagem perfeita — até à morte do último conde, na batalha de Pedroso, em 1071, que tentava conseguir maior autonomia face a Garcia II da Galiza, que governava o Reino da Galiza e Portugal de seu pai, Fernando Magno.

Porém, a atrofia do condado de Coimbra, criado em 878, mas suprimido com a conquista da cidade por Almançor no final do século X, permitiu a supremacia nortenha, que nem mesmo a reconstituição de uma autoridade equivalente à do conde — em benefício de Sesnando Davides, em 1064, e prolongada até à sua morte, em 1092 — pôde impedir.

Entretanto, a ambição de Afonso VI de Leão e Castela reconstituiu novamente a unidade dos Estados paternos e, quando Garcia acabou por morrer, depois de preso, em 1091, os territórios na sua posse passaram para as mãos de Raimundo de Borgonha, casado com D. Urraca.

A esta altura, o vigor das investidas Almorávidas recomendava a distribuição dos poderes militares, para melhor reforçar o território: um comando na zona central, entregue ao próprio rei Afonso VI, outro, não oficial, exercido por El Cid em Valência, e o terceiro a ocidente, entregue a Raimundo.

Este último não conseguiu defender eficazmente a linha do Tejo — tendo já perdido Lisboa que fora cedida aos Leoneses pelo rei taifa de Badajoz, juntamente com Santarém, que estava também prestes a cair nas mãos dos Almorávidas — e essa será uma das razões que atribuem alguns historiadores modernos à decisão tomada por Afonso VI de reforçar ainda mais a defesa militar ocidental, dividindo em duas a zona atribuída inicialmente a Raimundo, entregando a mais exposta a Henrique de Borgonha.

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