Aprenda a usar a vírgula com 4 regras simples

Portugal glorioso Aprenda a usar a vírgulaA vírgula é um dos elementos que mais confusão causa na língua portuguesa. Nem toda a gente sabe ao certo onde deve e onde não deve usá-la. O motivo disso é simples, ensinaram-nos de forma errada.

Dizerem-nos coisas como: 'a vírgula é usada para indicar pausa, preste atenção em como fala e quando fizer pausa use a vírgula', tudo isso é errado pois cada um de nós fala de maneira diferente, usa pausas diferentes e, basicamente, decide como quer falar.

(Apesar disso, devemos ter cuidado pois somos julgados pelo modo de falar).

Mas não podemos simplesmente decidir onde tem e onde não tem vírgula. Ela é poderosa demais para ser arbitrária. Para saber o enorme poder da vírgula, vamos ver este pequeno vídeo:


Viu como a vírgula é importante?

Pois bem, existem algumas regras para o uso da vírgula, e elas são baseadas na gramática. Calma, não se assuste. O objectivo aqui é "triturar" a gramática para que não estrague os seus dentes.
fonte: A.Gazola | adaptação: Portugal glorioso.

1. Use a vírgula para separar elementos que se poderiam listar

Veja esta frase:
João Maria Ricardo Pedro e Augusto foram almoçar.
Note que os nomes das pessoas podem ser separados numa lista; Foram almoçar:
  • João
  • Maria
  • Ricardo
  • Pedro
  • Augusto

Isso significa que devem ser separados por vírgula na frase original:
João, Maria, Ricardo, Pedro e Augusto foram almoçar.
Note que antes de "e Augusto" não tem vírgula. Regra geral não se usa vírgula antes de "e". Há uma excepção que explico mais à frente.

 2. Use a vírgula para separar explicações que estão no meio da frase

Explicações que interrompem a frase são mudanças de pensamento e devem ser separadas por vírgula. Exemplos:
Mário, o jovem que traz o pão, não veio hoje.
Dá-se uma explicação sobre quem é Mário.
Tu e eu, que somos amigos, não devemos guerrear.
O trecho explica algo sobre "tu e eu", portanto deve estar entre vírgulas.

 3. Use a vírgula para separar o lugar, o tempo ou o modo que vier no início da frase

Quando um tipo específico de expressão - aquela que indica tempo, lugar, modo e outros - iniciar a frase, usa-se vírgula. Exemplos:

Lá fora, o sol está de rachar!
"Lá fora" é uma expressão que indica "lugar". Um adjunto adverbial de lugar.
Na semana passada, jantaram todos no restaurante.
"Na semana passada" indica tempo. Adjunto adverbial de tempo.
De um modo geral, não gostamos de pessoas estranhas.
"De um modo geral" é sinónimo de "geralmente", adjunto adverbial de modo, por isso tem vírgula.

 4. Use a vírgula para separar orações independentes

Orações independentes são aquelas que fazem sentido, mesmo estando fora do texto. São as orações coordenadas assindéticas. Vamos ver os exemplos:
Acendeu um cigarro, cruzou as pernas, estalou as unhas, demorou o olhar em Mana Maria.
Neste exemplo, cada vírgula separa uma oração independente. Elas são coordenadas assindéticas.
Eu gosto de chocolate, mas não posso comer para não engordar.
Eu gosto de chocolate, porém não posso comer para não engordar.
Eu gosto de chocolate, contudo não posso comer para não engordar.
Eu gosto de chocolate, no entanto não posso comer para não engordar.
Eu gosto de chocolate, entretanto não posso comer para não engordar.
Eu gosto de chocolate, todavia não posso comer para não engordar.
Portanto, antes de todas essas palavras, chamadas de conjunções adversativas (expressam oposição), tem vírgula.

Agora só mais duas coisinhas...

Quando é que se usa vírgula antes de "e"?

Vimos em cima que, regra geral, não se usa vírgula antes de "e". Há apenas um caso em que se usa vírgula: é quando a frase depois de "e" fala de uma pessoa, coisa, ou objecto (sujeito) diferente da frase que vem antes de "e".
Assim:
O sol já ia fraco, e a tarde era amena.
Note que a primeira frase fala do sol, enquanto a segunda fala da tarde. Os sujeitos são diferentes. Portanto, usamos vírgula. Outro exemplo:
A mulher morreu, e cada um dos filhos procurou o seu destino.
O mesmo caso, a primeira oração diz respeito à mulher, a segunda aos filhos.

Existem casos em que a vírgula é opcional?

Existe um caso. Lembra-se do item 3? Se a expressão de tempo, modo, lugar etc. não for uma expressão, mas sim uma palavra só, então a vírgula é facultativa. Vai depender do sentido, do ritmo, da velocidade que queremos dar à frase. Exemplos:
Depois vamos sair para jantar.
Depois, vamos sair para jantar.
Geralmente gosto de almoçar em casa.
Geralmente, gosto de almoçar em casa.
Na semana passada, jantaram todos no restaurante.
Na semana passada jantaram todos no restaurante.
Note que este último é o mesmo exemplo do item 3. Sem a vírgula a frase também fica correcta.

Não se usa a vírgula!

Com as regras acima, seguramente você vai acertar 99% dos casos em que precisará de usar a vírgula.

Atenção, um erro muito comum que vejo é gente a separar sujeito e predicado com vírgula. É um erro grave, e você pode ser preso se for apanhado!
Errado:
João, gosta de comer batatas.
Alice, Maria e Luís, querem ir à escola.

Certo:
João gosta de comer batatas.
Alice, Maria e Luís querem ir à escola.

(Sujeito / Predicado)

Exercício sobre vírgula e pontuação

O sr. Alfredo escreveu o seu testamento. Infelizmente esqueceu-se da pontuação e o texto ficou assim:
Deixo a minha fortuna ao meu sobrinho não à minha irmã jamais pagarei a conta do alfaiate nada aos pobres
Reescreva o testamento quatro vezes. Em cada uma delas deve dar a herança para alguém diferente. Pode usar qualquer sinal de pontuação, mas não pode mudar a ordem das palavras.

É um exercício interessante e tem várias formas de ser resolvido. Escreva as suas tentativas nos comentários.
(edição e adaptação: Portugal Glorioso)

4 comentários blogger

  1. 1) Deixo minha fortuna ao meu sobrinho, não à minha irmã! Jamais pagarei a conta do alfaiate, nada aos pobres. 2) Deixo minha fortuna - ao meu sobrinho não - à minha irmã. Jamais pagarei a conta do alfaiate, nada aos pobres. 3) Deixo minha fortuna - ao meu sobrinho não, à minha irmã jamais. Pagarei a conta do alfaiate. Nada aos pobres. 4) Deixo minha fortuna (ao meu sobrinho não, à minha irmã jamais, pagarei a conta do alfaiate? nada!) aos pobres!

    ResponderEliminar
  2. Parabéns, de Guarulhos, SP, Brasil! Gostei muito e ofereço outro exercício: O soldado foi injustamente condenado à morte. Em última instância, lhe permitiram implorar absolvição a Napoleão. Este, irritado, rabiscou o texto abaixo e mandou o soldado entregá-lo à Corte:

    Se o Tribunal condena eu não absolvo Napoleão

    Levando em mãos sua irrecorrível pena capital, leu-a com calma, aplicou a pontuação que faltava, escapou ileso e foi até condecorado! O que você faria no lugar dele?

    ResponderEliminar
  3. Deixo a minha fortuna ao meu sobrinho, não à minha irmã, jamais pagarei a conta do alfaiate, nada aos pobres.
    Deixo a minha fortuna, ao meu sobrinho não, à minha irmã, jamais pagarei a conta do alfaiate, nada aos pobres.
    Deixo a minha fortuna, ao meu sobrinho não, à minha irmã jamais, pagarei a conta do alfaiate, nada aos pobres.
    Deixo a minha fortuna, ao meu sobrinho não, à minha irmã jamais, pagarei a conta do alfaiate nada, aos pobres.

    ResponderEliminar
  4. 1) Deixo minha fortuna ao meu sobrinho, não à minha irmã! Jamais pagarei a conta do alfaiate, nada aos pobres. 2) Deixo minha fortuna - ao meu sobrinho não - à minha irmã. Jamais pagarei a conta do alfaiate, nada aos pobres. 3) Deixo minha fortuna - ao meu sobrinho não, à minha irmã jamais. Pagarei a conta do alfaiate. Nada aos pobres. 4) Deixo minha fortuna (ao meu sobrinho não, à minha irmã jamais, pagarei a conta do alfaiate? nada!) aos pobres!

    ResponderEliminar

Com tecnologia do Blogger.