Autocarros e comboios eram indignos. Passaram a perigosos

Se para apedrejar a miudagem não faltam punhos, já para se ralarem com os operários fabris, sobram sobrolhos. (Joana Amaral Dias)


Famintos & foliões

Há uns putos que, com cérebro adolescente, maus exemplos e falta de alternativas, fazem festarola em tempos de coronavírus. Mas também há milhares de trabalhadores que nunca saíram da estiva (nem podem) e são enlatados em transportes públicos.

Se para apedrejar a miudagem estulta não faltam punhos, já para se ralarem com as funcionárias domésticas mal pagas ou com operários fabris, sobram sobrolhos. Já antes, estes autocarros, barcos e comboios eram indignos. Passaram a perigosos quando começou a pandemia. Até hoje.

Tal como sucedeu nos lares, as medidas necessárias eram óbvias mas o governo procrastinou. Resultado: 19 freguesias com novas restrições. Enquanto uns desconfinam, outros reduzem-se a casa-trabalho-casa. Sempre os do costume.

As freguesias fustigadas são sensivelmente as mesmas nas quais, nas Grandes Cheias de 1967, morreram centenas de pessoas numa só noite. No Estoril, por exemplo, choveu bem mais mas não morreu ninguém - a população não vivia em barracas de chão em terra como em Loures ou em Odivelas.

Mais de 50 anos depois, são os seus netos nas cadeias de contágio. Não estamos todos no mesmo barco, não. Uns esfregam o convés, outros viajam em camarotes de luxo. E estes ainda criticam os primeiros. Com mentes mais tontas que os tais púberes foliões.
Joana Amaral Dias

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