Joana Amaral Dias: O caso da biblioteca Manguel

"Numa autarquia onde é necessária tanta burocracia para um parafuso, numa área como a Cultura que mal sobrevive em apneia, a biblioteca estava comprada enquanto o diabo esfrega um olho." 

Joana Amaral Dias: O caso da biblioteca Manguel

Conhecem o caso da biblioteca Manguel? Não? Um excelente exemplo da javardeira que forra a Câmara Municipal de Lisboa, neste caso a coberto de uma suposta elite que tem a mania que é culta e que vive dos festivais de literatura com os seus croquetes. 

Então, o senhor Manguel é coleccionador de livros e tem uma biblioteca que gostava de alojar definitivamente em algum lugar. Canadá, EUA, México e Turquia já o mandaram dar uma curva até porque o que ele quer é tacho. Que lhe comprem o acervo, que lhe paguem para o dirigir e ainda lhe dêem um amendoim por ter acumulado tantos volumes. 

Vai daí, esse senhor, argentino de origem (país onde deixou péssimas recordações), veio bater à porta aqui dos indígenas que, excitadíssimos com facto de Manguel ter sido leitor do cego e genial Jorge Luis Borges, mais umas cunhas à mistura, escancarou-lhe as portas e estendeu-lhe a passadeira vermelha. Qualquer dia vem aí alguém que mudou as fraldas a um Nobel e fazemos-lhe uma estátua. 

Enfim, numa autarquia onde é necessária tanta burocracia para um parafuso, numa área como a Cultura que mal sobrevive em apneia, a biblioteca (cuja esmagadora maioria dos livros nem se conhece) estava comprada enquanto o diabo esfrega um olho. Pronto. Ratificou-se o respectivo protocolo nos últimos minutos de uma longuíssima reunião pública de Câmara (dia 30) já sem a presença da oposição, sem debate e sem esclarecimentos. 

Porqueira no seu esplendor. Com uma ajudinha do Bloco e do PCP. 

As 40 mil obras que nós pagámos sem saber quais são, ficarão instaladas no Palacete dos Marqueses de Pombal, na Rua das Janelas Verdes e serão dadas todas as garantias. 

Os lisboetas suportarão todos os custos operacionais, inclusive a instalação do equipamento, o transporte dos livros desde Montreal, a catalogação, espaço, mobiliário, tecnologia, manutenção, ordenados e despesas várias dos recursos humanos que terão de ser alocados, aquisição de mais volumes e organização de eventos. Foi bonita a festa, pá. 
Joana Amaral Dias

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