Sócrates pode ser condenado apenas aos 80 anos?! - Joana Amaral
Eis uma prova viva que a nossa democracia é frágil e imatura. Afinal, trata-se de alguém que esteve mais de 20 anos na gestão da coisa pública, que foi Primeiro Ministro duas vezes, tempo ao longo do qual foi dando múltiplos sinais de alerta.
Quer do ponto de vista das suas opções políticas (basta lembrar os contratos ruinosos nas parcerias público privadas ou o resgate ao BPN que deixou aos bandidos o património enquanto os cidadãos ficaram com os prejuízos), quer do ponto de vista do seu comportamento (casas da Beira, licenciatura, Freeport) os sintomas eram múltiplos e a sociedade portuguesa esteve cega. Denegou tudo.
Só que a investigação judicial se ainda não confirmou a corrupção ou a fraude fiscal, mostrou que, efectivamente, se trata de alguém para quem a ética republicana é letra morta, um governante sem qualquer sentido de estado - é lá crível ou admissível que se viva como sultão à custa de um amigo? É aceitável que um ex PM contrate um escritor fantasma e pague os seus próprios livros para que pareça sucesso?
Pior é que, depois de todo este calvário, a justiça portuguesa é tão lenta que deixa de ser justiça. Dá tantas garantias ao arguido que é uma negação da lei. Falha em tantos pontos essenciais (nem contempla o enriquecimento ilícito nem a colaboração do denunciante), que não é justa.
Era bom que perante este animal feroz que fez xeque-mate ao nosso país conseguíssemos pelo menos mudar alguns destes aspectos críticos. Talvez quando os nossos filhos forem também octogenários?
(Joana Amaral Dias)
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