«O unanimismo burro passou a ser o novo normal»

Sanções e dalilas

Portugal é aquele país (entre outros) que à segunda, quarta e sexta manda para a fogueira quem chama menos que doido varrido a Putin e que, à terça, quinta e sábado, fecha os olhos à moratória concedida a Abramovich.
 
«O unanimismo burro passou a ser o novo normal»


Portugal é aquele país (entre outros) que à segunda, quarta e sexta manda para a fogueira quem chama menos que doido varrido a Putin e que, à terça, quinta e sábado, fecha os olhos à moratória concedida a Abramovich (e a todo o regabofe à volta dos poderes da comunidade sefardita portuguesa), minimiza o impacto dos Vistos Gold e deixa a boquinha fechada face ao petróleo russo que atraca em Sines. 


Já aos domingos é dia de esquecer os refugiados do Iémen, da Síria ou do Iraque, e todos os que não são mais branquelas. Parece que, afinal, a grande aspiração de muitos portugueses é serem louros de olhos claros e não primos dos magrebinos, como de facto são. Certo é que a solidariedade racista é a denegação da própria solidariedade. 


Portugal é aquele país que aos dias pares brada pela morte do Presidente russo e pede mais sangue, sanções e lágrimas e que, nos dias ímpares chora o aumento do preço dos combustíveis, berrando a pleno pulmão que, umas semanas depois, já não se aguenta. E a grande hemorragia ainda está para vir, certamente não estancável com óleo de girassol e atum em lata. 


Portugal é aquele país que nos dias começados por ’S’ alinha com a fala extrema do “No Fly Zone” - a que Zelensky insiste em apelar (mas que redundaria numa guerra nuclear, como dito pelos EUA e pela Rússia), e que em todos os outros dias teme o Armagedão e esgota o iodeto de potássio nas farmácias. 


Os portugueses tanto receiam o conflito e vão para as manifestações pedir paz como, no minuto seguinte, salivam por mais armas, aplaudem novos exércitos e maior músculo. De máscaras bem subidas e mãos a pingar álcool-gel, são os bravos do pelotão e fazem juras sobre o que fariam se Putin cruzasse o seu caminho. Sobre diálogo, diplomacia e entendimentos, nem uma única palavra. Raspas.


Enfim, diz-se que a vítima número um da guerra é a verdade mas o que se constata é que a primeira baixa é a racionalidade. Ou seja, aquele que deveria ser o pilar de qualquer estratégia em tempos belicosos e belicistas, a necessidade básica de manter a calma e o norte quando a tempestade adensa, sumiu completamente. 


As contradições e a desorientação já anexaram território. De resto, o mesmo já tinha sucedido com a gestão da covid. Numa crise de saúde pública, o essencial seria apelar à tranquilidade e à razão. Porém, governantes, comunicação social e os injustamente apodados de especialistas, optaram pela vereda exactamente oposta, lançando o pânico, o medo e a desconfiança do outro, censurando qualquer faísca de dúvida ou pensamento crítico, levedando ódios e discriminações. 


O absurdo, a exclusão, o unanimismo burro passou a ser o novo normal entre gentes que correm à toa como galinhas sem cabeça. Ou como Sanções castrados por Dalilas. E, tal como esse nazireu, até à sua própria implosão final.


Joana Amaral Dias 
https://www.facebook.com/joanamaraldias/posts/554368492714389

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