Soldado Milhões: o herói português da I Guerra Mundial

A história de um soldado raso que se tornou no mais condecorado soldado da história do exército português.

Soldado Milhões: o herói português da I Guerra Mundial
Aníbal Augusto Milhais, ou Soldado Milhões (09 Julho 1895 — 03 Junho 1970), soldado português condecorado com a Ordem Militar da Torre e Espada.

A origem da história é banal. Um homem simples, pequeno (1,55m), de cerca de 20 anos, embarca como tantos outros com destino a um país que não conhece e para uma acção da qual apenas tem uma vaga ideia: fazer a guerra.

Chegada a hora da tropa, Aníbal é recrutado e incorporado no Regimento de Bragança e mais tarde no de Chaves. Muito rapidamente, o simples soldado revela-se um excelente atirador de elite. Em 1917 partiu para a frente de combate. Um ano depois chegava o grande momento, o da Batalha de La Lys. O dia preciso: 9 de Abril. 

Rezam as crónicas que uma força portuguesa se viu atacada pelos alemães. Chegou a ser destroçada e a situação era a pior possível. Muitos portugueses foram mortos e os sobreviventes obrigados a retirar. Quando a ordem de evacuar é dada todos obedecem, excepto Milhais que se disponibiliza para ficar:

Vão-se embora, eu protejo a vossa retirada!

O soldado, opondo-se às ordens, corre o risco de ser punido, mas recusa-se a abandonar a posição! Assim, sozinho, conseguiu empatar a ofensiva alemã durante tempo suficiente que permitiu aos seus companheiros recuar para linhas mais resguardadas, em segurança. A maioria deles terá sobrevivido.

Soldado Milhões: Trincheiras
Trincheiras - Primeira Guerra Mundial.

Começa então uma série de actos heróicos dignos de uma lenda. A bravura do franzino e pequeno Aníbal, com pouco mais de um metro e meio de altura.

A sua perícia, enquanto atirador de elite, permite-lhe disparar a uma distância de cerca de 200 metros. Além disso, a sua pequena estatura permite-lhe saltar de trincheira em trincheira e movimentar-se furtivamente. Para recarregar a sua metralhadora utiliza os cartuchos dos soldados mortos.

Ao longo de vários dias, o pequeno soldado correu entre vários abrigos, disparando de diferentes posições e criando a ilusão, nas tropas alemãs, de que o sector era guardado por numerosos militares. Mas, era apenas Milhais e a sua Luísa, nome da metralhadora.  

Quando o sector é tomado de assalto, Milhais já partiu. Aproveitou uma tela de tenda e a carcaça de um cavalo morto para se esconder e deixar passar os atacantes. Milhais, esse, continuou a vaguear pelos campos, sozinho, apenas com algumas amêndoas doces para comer. E os seus actos prosseguem.

Salvou um grupo de escoceses de serem capturados, metralhando sobre os alemães que faziam a escolta. Mais tarde, no decurso de uma passagem a nado, salvou um major escocês de morrer afogado. 

Foi este major, para sempre agradecido, que deu conta ao exército aliado dos feitos do soldado transmontano. O pequeno Aníbal torna-se assim numa lenda. Chegado ao acampamento, Milhais foi efusivamente abraçado pelo seu comandante:

Chamas-te Milhais, mas vales Milhões!

Em virtude desses feitos, o soldado recebe directamente no campo de batalha a mais alta honraria nacional, o Colar da Torre e Espada, perante o desfile em continência de quinze mil soldados aliados. Para além disso, receberá um novo nome: Soldado Milhões.

Aníbal Augusto Milhais: Soldado Milhões

Após o armistício e tornando-se numa lenda viva, Aníbal Milhais regressa a Portugal no dia 02 de Fevereiro de 1919.

Dia 08 de Julho de 1924, Valongo passa a chamar-se Valongo de Milhais em homenagem ao herói da terra. Aí, casa-se com Maria de Jesus e têm dez filhos. Mas nos anos 20, em Portugal, a vida no campo não é fácil. São tempos difíceis e de muito sacrifício. Para fazer face à crise, Milhais emigra para o Brasil em 1928.

Assim que se apercebe da sua partida, a aldeia faz um grande peditório de forma a pagarem-lhe a viagem de regresso, dizendo-lhe que "um herói da pátria não deve estar emigrado; deve estar mas é no seu país, como símbolo, como reserva de um conjunto de valores".

Quando regressou a Portugal, em 05 de Agosto de 1928, o soldado Milhões retoma as tarefas no campo para sustentar os filhos. Teve dez, mas só oito chegaram à idade adulta. 

No mesmo ano, o Estado português atribui-lhe uma pensão. O reconhecimento material da nação resumiu-se a uma pensão que se manteve nos 15 escudos mensais até início dos anos 50. (Ou seja, 15 escudos durante 22 anos!)

O soldado português mais condecorado da história do exército, morre aos 75 anos, no dia 03 de Junho de 1970. As suas medalhas conquistadas no campo da glória valiam-lhe, na altura, pouco mais de mil escudos/mês de pensão.

1 comentário blogger

  1. Li o Livro.
    Teve um desgosto grande quando o seu filho, que estava na força aérea, morre de desastre. Foi o filho que através de um cata vento e um dínamo pôs em sua casa electricidade. A vida não foi fácil. Assim que chegou da guerra, teve que emigrar para o Brasil e andava por lá ao abandono.

    Um jornal interessou-se, fez campanha, andou com ele a percorrer o País e conseguiu algo para fazer uma casa. Dizem que, quando tinha fome, ia ao quartel comer. (Vila Real) O Guarda da porta-de-armas tinha que gritar ÁS ARMAS, o sargento da guarda tinha que formar todas as praças que estavam de guarda e apresentarem armas, porque tinha a mais alta condecoração militar!!!

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