Miguel Szymanski: Catástrofe programada

Miguel Szymanski: Catástrofe programada
 

Catástrofe programada 

Acho bem que holandeses, alemães, escandinavos e outros europeus do norte tenham mirtilos e framboesas no seu muesli, todas as manhãs, o ano inteiro. Acho mal que sequem as reservas de água doce no Algarve para regar estufas de frutos vermelhos, que violem sistematicamente o ambiente e que cubram os parque naturais de plástico. 
 
Entretanto, as áreas de eucalipto aumentam na serra. Abatem-se e não se renovam amendoeiras, alfarrobeiras, oliveiras e sobreiros de sequeiro. À escala industrial plantam-se olivais e amendoais de rega intensiva. Um ciclo vicioso de exportação, imigração e destruição. O desfecho será trágico, programado com o apoio dos governos locais e central. 

A Barragem de Santa Clara é só um exemplo do que se passa em todo o Algarve e no Alentejo. Da newsletter de hoje do 'Algarve Daily News': 

"A gestão insustentável da água continua na Barragem Santa Clara Mais de mil litros de água por segundo estão a ser retirados da barragem de Santa Clara, 24 horas por dia, 7 dias por semana, mais de 90% vai para a agricultura intensiva de propriedade de produtores estrangeiros de fruta, 3% para limpar uma mina e 6% para os locais, que estão começar a sofrer restrições ao consumo e, em alguns casos, cortes. 

40% da água bombeada - o nível está muito baixo para fluir como deveria nos canais construídos para esse fim - perde-se devido à manutenção insuficiente dos canais. 

Os produtores de frutos vermelhos, que exportam a grande maioria de sua produção para os países do norte da Europa, empregam poucos locais, contratam em vez disso 16.000 semi-escravos, mal pagos, do Nepal, Paquistão e Índia, (nalguns casos são alojadas até 30 pessoas em duas assoalhadas). (...) 

Os mesmos produtores de frutos silvestres, que efetivamente controlam a empresa de gestão da água, estão domiciliados no exterior, principalmente nos Estados Unidos e na Holanda (...) e receberam reduções fiscais de governo em 2019. 

A companhia de água cortou o fluxo para o rio original (...) e secou o leito do rio que está moribundo. (...). 

É o Ministério da Agricultura de Portugal a promover todo o negócio, enquanto a Agência Ambiental persegue os locais que levantam um tijolo em qualquer lugar, os produtores de frutos silvestres colocaram 1.000 hectares de um Parque Natural sob o plástico, muito mais do que estão autorizados a fazer, o "Parque Natural" agora é apenas um nome a desaparecer sob um mar de plástico enquanto as estufas consomem uma taxa cada vez maior do único recurso hídrico de toda a área. (...)." 

Miguel Szymanski
https://www.facebook.com/miguelszymanski/posts/10226852421845424

Deixe o seu comentário

Com tecnologia do Blogger.